‘Barbie’ é realmente tudo que se esperava, para o bem e para o mal; veja resenha completa

‘Barbie’ é realmente tudo que se esperava, para o bem e para o mal; veja resenha completa

Finalmente chegamos à semana de estreia de ‘Barbie’, filme live-action da boneca mais famosa do mundo que chega aos cinemas nesta quinta-feira (20). Muito se falou, muito se especulou, muito se esperou. Mas ao ter exatamente aquilo que se aguardava, qual o julgamento de valor a ser feito? Esta colunista já conferiu um dos mais aguardados deste ano e te garante: não é o fator surpresa o responsável em fazer de ‘Barbie’ um bom filme.

Se a dúvida bateu por aí, te explico melhor. Entre todos os materiais e especulações espalhados sobre ele ao longo dos últimos meses, ‘Barbie’ brinca justamente com o fato de que não se fala em outra coisa e, justamente por isso, já se falou sobre tudo — ou quase tudo — que ele poderia entregar. E isso, magicamente, não soa aqui como algo ruim.

 

A premissa é aquela mesmo, você com certeza já viu em algum dos trailers da produção. Segundo a sinopse oficial, após ser expulsa da Barbieland por ser uma boneca de aparência menos perfeita, Barbie parte para o mundo humano em busca da verdadeira felicidade. Guarda essa informação por aí.

QUESTÕES PROFUNDAS

Talvez o que poderia ser a maior surpresa de Barbie já havia sido levantada. Sim, o filme se propõe mesmo a discutir questões mais profundas, além do que se deveria esperar de uma história de boneca. Entretanto, se for possível lembrar da influência dela na criação de milhões de meninas em todo o mundo, não é lá tão difícil entender onde tudo se aplica.

 

Produto da Mattel, a Barbie se tornou uma ideia ao longo dos anos, servindo de padrão estético e de comportamento para como mulheres deveriam ser ou se portar enquanto cresciam e trilhavam a própria história. É fácil visualizar como o feminismo, por exemplo, pode ser usado para uma análise mais crítica dela.

 

Greta Gerwig, que dirige o filme em um tom extremamente correto, sabe bem disso e não hesita ao tornar o seu ‘Barbie’ em uma incrível sátira, ainda que de forma contida, afinal de contas, esse ainda é um filme licenciado e aprovado pela própria Mattel, não é mesmo.

É nesse momento em que o roteiro brinca com o fato de as centenas de Barbies já criadas serem perfeitas, capazes de qualquer coisa. Discute também como a boneca icônica representou mais que um brinquedo, se tornando um padrão de beleza capaz de perseguir mulheres desde a infância à vida adulta.

 

 

Entretanto, não se engane, esse não é um filme para destruir a trajetória da tão amada figura. ‘Barbie’ utiliza a própria história e as controvérsias para se repaginar. Enquanto o longa mostra os problemas da tal “imposição” do padrão, ele também transfere a culpa para nossa própria sociedade, retirando da boneca o papel de antagonista para colocar outras figuras nessa posição.

machismo pode até ser citado como um dos vilões dessa história. Na trajetória de Barbie, é ela quem luta por um mundo em que as mulheres podem ser qualquer coisa, enquanto fatores como o preconceito e o patriarcado teimam em atrasar os direitos que nos cabem.

Mas mais uma vez, ele não faz essa reflexão de forma tão surpreendente. Ao contrário, o faz de forma previsível, assim como já especulado em redes como o Twitter, mas nem por isso perde o timing da mensagem que acrescenta profundidade à narrativa. Acerta, em cheio, fisgando o público ao entregar o óbvio e aqui, reitero, não há problema.

ELE É APENAS O KEN?

A sensação deve ser quase unânime ao deixar a sala de cinema. Provavelmente, cerca de 90% das salas devem sair com pessoas entusiasmadas com o longa, já que ele é sim divertido, carismático, extremamente engraçado e capaz de trazer as melhores referências em um roteiro bastante inteligente.

As intervenções de Gerwig, por exemplo, arrancam risadas estrondosas dentro das salas justamente por serem utilizadas como recurso no tempo certo e de forma apurada.

Legenda: Ryan Gosling acerta o timing de todas as piadas propostas no roteiro assinado por Greta Gerwig e Noah Baumbach
Foto: Reprodução/Warner Bros

 

E nisso, não há como citar Ryan Gosling. Parece até mesmo que ele nasceu para interpretar o Ken, se você, caro leitor, me permite a brincadeira. O ator segue tão confortável em cena que a tela se preenche do carisma dele, arrastando o público junto do jeito engraçado e performático com o qual ele optou por transformar o personagem.

O Ken de Ryan Gosling não é apenas o Ken, diferente do que os cartazes de divulgação informam por aí. Como é possível um boneco ter sentimentos? Talvez você se questione, mas aqui ele é capaz até de levantar temas como o existencialismo e nos trazer sentimentos confusos em relação a isso. Magistral, eu diria, tá?

 

 

Margot Robbie brilha, é a boneca mais que perfeita, mas Gosling dita o tom da história e nos faz imergir nos pensamentos e crises de Ken. Ele quer apenas entender o próprio papel no mundo, sabe? Seria demais pedir a mim que não me relacionasse diretamente com essa questão. Risos.

No fim, o saldo é totalmente positivo. ‘Barbie’ entrega tudo aquilo que propôs desde o início. Diverte, emociona, faz refletir. Tudo bem que não revira tudo, reinventa a roda, mas às vezes o tal do “básico bem feito” é melhor que explosões grandiosas insistentes na promessa de revolucionar o cinema.

Diário do Nordeste

Valdecir Pereira

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *